Alfama
Quando Lisboa anoitece,
Como um veleiro sem velas
Alfama toda parece
Uma casa sem janelas,
Aonde o povo arrefece...
É numa água-furtada,
No espaço roubado à mágoa,
Que Alfama fica fechada
Em quatro paredes de água...
Quatro paredes de pranto!
Quatro muros de ansiedade
Que, à noite, fazem o canto
Que se acende na cidade!
Fechada em seu desencanto,
Alfama cheira a saudade...
Alfama não cheira a fado:
Cheira a povo e solidão!
Cheira a silêncio magoado,
Sabe a tristeza com pão...
Alfama não cheira a fado,
Mas não tem outra canção!